06 julho, 2015

A minha rua


Ontem fui criança mas de vez em quando pisco o olho lá atrás. A lembrar-me da rua onde passava a vida onde a vida foi vivida tão intensamente. Eram miúdas e rapazes, risos e correrias com muito suor, sem metas para cumprir, sem objectivos traçados apenas o prazer total da brincadeira. Incertezas quanto ao futuro mas certezas de que no dia seguinte haveria brincadeira, ali naquela rua, onde tantas aventuras tiveram lugar. Fui policia, fui ladrão, fui princesa e várias vezes casei. Ganhei, perdi corridas, subi e caí das árvores, fui amiga e não tive inimigos. Saltei fogueiras, tropecei nas cordas, apanhei folhas do chão, fiz filmes vários com a imaginação, com muitos actores crianças como eu. Ganhei e perdi guerras várias com espadas de troncos arrancados aos arbustos que rodeavam a minha rua. Rebolei na relva, fiz buracos nas calças e saias nem vê-las. De dia até à noite e quando a fome e sede apertavam, rendia-me ao aconchego do lar porque a rua era a minha casa e os meus amigos a minha família, a família da rua.